Das poucas vezes em que respirámos quase exactamente o mesmo ar, frente a frente, nunca me recordo daquilo que disseste por inteiro. Não consigo refazer o diálogo e solto baixinho um “parece que estou bêbada, estaria?” e tenho cortes na memória, verdadeiros apagões.

Lembro-me apenas de fragmentos, das respostas que preferia ter dado (mas como, se já nem sei com precisão e rigor onde começaste e onde acabaste a falar?) e recrio tudo conforme posso, atabalhoadamente, como se fugissem livros e tecidos pelos braços fora em vendaval.

Fassbinder e a confusão com Fassbender, a repetição dos problemas de afazeres profissionais que já me relataste duas vezes, queria ver-te em palco, sem agenda alguma, saudades.

Começo a achar que esta é a minha tentativa de atiçar, ainda mais, o fogareiro da saudade, como se duvidasse do que o tempo, a ausência e as minhas ilusões conseguem fazer tão bem por si só. Ou então é aquilo da embriaguez do enamoramento, finalmente em directo e ao vivo, em mim. Que triste, uma bêbeda equilibrista a solo.

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