O sol inclina-se, como numa aparição descendente , pela janela das águas furtadas. A tinta está descascada, as telhas já castanhas e de certeza que tudo ali é ferrugem e pó que cai, pousa e volta a levantar.
Ninguém lá mora, só o silêncio ao sol. Como um encontro marcado em que o outro nunca chega e só então nos apercebemos que nunca mais virá. Ou como quem chega ao palco para representar e vê que o público abandonou a sala. E os braços quedam ao longo do corpo e sabe-se que ali, de uma revolta, se ceifa um sorriso com vontade de ver os outros felizes e nasce uma força de músculos sem destino na sua musculada força.
É então uma tristeza. Aquele calor amarelo, que muda o castanho das tábuas para quase branco pela camada de pó e ninguém ali para o receber, encher, pendurar outroas coisas que brilhem e mudem de cor. Tecidos que exalem o cheiro dos tecidos ao sol, como que a desabafarem o dia, os anos, os cheiros sofridos em silêncio.
É tantas vezes esse ritual da espera, quando o ponto final marca o ritmo. Mas lá ficamos presos a essa luz do sol a incendiar a memória de promesas bem reais, à força de vivermos por elas. Sabemos mas não cremos. E desse desengano só queremos o pó.*